As políticas curriculares contemporâneas para a Educação Infantil : uma estratégia de governamento das infâncias
Autor: Amanda Porto da Cruz (Currículo Lattes)
Resumo
Esta dissertação, vinculada à linha de pesquisa Políticas Educacionais e Currículo, tem por objetivo analisar os deslocamentos do conceito infância e seus modos de educá-la nas políticas curriculares contemporâneas para a etapa da Educação Infantil. Para isso, foram analisados documentos oficiais que ganham notoriedade no contexto contemporâneo, os quais são: Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2009) e a Base Nacional Comum Curricular (2017). A realização dessa pesquisa se pautou na perspectiva pós-estruturalista, com as contribuições do autor Michel Foucault, sendo utilizado conceitos-ferramentas, tais como: governamento e a noção de governamentalidade como grade de inteligibilidade. A metodologia deste estudo foi construída a partir de cunho qualitativo, problematizador e analítico, empreendendo três eixos de análise que se articulam para compreender as estratégias de governamento infantil. O primeiro eixo busca mostrar os discursos sobre as crianças nos documentos, onde, nas Diretrizes, se configuram como infância de direitos para que possam exercer sua cidadania e fazerem parte da engrenagem social neoliberal. Já a BNCC, ao mesmo tempo que traz discursos com relação ao direito, se desloca para a noção de uma infância competente, tendo em vista a ênfase nas competências e habilidades, para que possam entrar no jogo econômico. O segundo eixo explicita como as crianças vêm sendo alvo de investimento para evitar os riscos que podem vir a apresentar na vida em sociedade. Nas DCNEI, há um investimento da infância no presente, ao apresentarem as interações e as brincadeiras como eixo do currículo, bem como a autonomia das crianças. Na BNCC, é possível perceber um investimento da infância no futuro, o qual vai instituir aprendizagens mínimas que precisam ser obtidas para serem bem-sucedidas. No terceiro eixo, apresenta-se os discursos que explicitam as formas como a infância vem sendo educada, produzindo a conduta infantil. Nas DCNEI, foi possível identificar as práticas pedagógicas a partir da diversidade de experiências. Já na BNCC foi possível perceber o deslocamento para uma prática pedagógica que apresenta objetivos por faixa etária e o acirramento da regulação docente, por meio da padronização do currículo. A partir destes deslocamentos, foi possível destacar as estratégias de governamento da infância, sendo operadas a partir de uma racionalidade neoliberal, que se (re)configura de formas diferentes nas políticas curriculares contemporâneas para a infância.