A inclusão como estratégia de governamento : a condução da conduta dos sujeitos normais
Autor: Camila Bottero Corrêa (Currículo Lattes)
Resumo
Esta dissertação tem por objetivo problematizar como os discursos da inclusão escolar, materializados em documentos oficiais, colocam em funcionamento estratégias de governamento que operam sobre os normais. Para tanto, esta pesquisa se pauta nas contribuições de autores pós-estruturalistas e nos estudos de Michel Foucault, sendo utilizados alguns conceitos-ferramentas, tais como: norma, normalidade e governamento. Os discursos analisados fazem parte de documentos oficiais produzidos pelo Ministério da educação, os quais são: O acesso de alunos com deficiência às escolas e classes comuns da rede regular (2004); Projeto escola viva: garantindo o acesso e permanência de todos os alunos na escola (2005); Educar na diversidade: material de formação docente (2006). Através da construção de dois eixos de análise este estudo possibilitou mostrar e problematizar que estes documentos colocam em operação estratégias inclusivas de governamento que agem sobre o sujeito docente, através da tríade convocação - sensibilização - condução, e sobre sujeito discente normal, por meio da tríade reflexão - simulação - colaboração. Tratando-se do docente, observou-se que este aparece nos documentos não só como alvo de estratégias que visam torná-lo um sujeito-parceiro do Estado, transferindo a ele a responsabilidade pela execução do projeto da inclusão; mas também de estratégias que o fazem refletir sobre si e sobre a sua prática pedagógica, estimulando-o à autotransformação por intermédio do investimento em si mesmo. Tratando-se do discente normal, observou-se este sendo alvo não só de estratégias de reflexão que visam familiarizá-los com casos e objetos utilizados por pessoas que possuam alguma deficiência, mas de técnicas de simulação pautadas na lógica da diversidade, que buscam despertar sentimentos de comoção, pena e tolerância. Além disso, o discente normal também aparece sendo alvo do que se nomeia como cultura da colaboração. A partir dessa problematização este estudo possibilitou compreender que ao promover a aceitação, tolerância e respeito para com a diversidade, os discursos inclusivos contribuem para a naturalização da presença do outro e, desta forma, para o alargamento da noção de normalidade.