Escola Sem Partido : uma análise das investidas de poder sobre as identidades docentes
Autor: Elvis Patrik Katz (Currículo Lattes)
Resumo
O autodenominado Escola Sem Partido é uma espécie de movimento social que ao longo dos últimos anos vem atacando sistematicamente a categoria docente. Fundada em 2004, a organização tem por finalidade combater a existência de uma suposta hegemonia da "doutrinação ideológica" de esquerda nas escolas brasileiras. A presente Dissertação objetivou analisar as enunciações proferidas pelo Escola Sem Partido em seus ditos constantes, sobretudo, no website do movimento, o escolasempartido.org. No interior da Linha de Pesquisa Linguagens, Culturas e Utopias, sob a orientação do pensamento de Michel Foucault e as contribuições dos Estudos Culturais, procurei responder ao problema de pesquisa: como operam as investidas de poder lançadas pelo Escola Sem Partido sobre as condutas docentes? O corpus documental incluiu, dessa forma, dois tipos de fontes: a categoria um (1) contemplou as enunciações que buscavam fabricar discursivamente as realidades das quais o Escola Sem Partido se ocupava. A categoria dois (2) pretendeu, por outro lado, legitimar e consolidar as afirmações e teses presentes na primeira categoria. Das categorias derivaram (dezessete) 17 unidades que foram utilizadas para construir verdades que subsidiaram a organização nas suas afirmações. Sustentado nesses saberes e com o essencial papel desempenhado pelo Mecanismo da Denúncia, o movimento passou a lançar sobre os professores uma estratégia de dominação que nomeei como "investidas de poder". Tais ações configuravam-se como práticas constantes e visavam provocações permanentes sobre a conduta docente. Desmembrando as investidas apareceram as técnicas de poder, distinguíveis em dois grupos: a) Técnicas Educativo-Políticas e b) Técnicas Jurídicas. Ambas, atuando sobre as condições oferecidas pelos instrumentos anteriores, passaram a criar uma situação em que os projetos de leis do Programa Escola Sem Partido tornaram-se apenas mais uma peça das engrenagens usadas para o governamento dos professores. Portanto, apesar das Técnicas Jurídicas estarem entre as mais decisivas, atualmente, suas forças só se fazem tamanhas por conta dos procedimentos que as precederam. Por fim, as investidas de poder pareciam acabar por construir, com seus ataques, identidades docentes desejáveis que passaram a funcionar como posições de sujeito a serem ocupadas pelos docentes. Assim, a organização vem tentando reconquistar, aos poucos, o espaço na escola que ela acredita ter cedido para os partidários da esquerda política.