Práticas de letramento durante o ensino remoto em uma comunidade pomerana do campo (2020/2021)
Autor: Myrna Susan Gowert Madia Berwaldt (Currículo Lattes)
Resumo
Esta pesquisa foi realizada em uma comunidade pomerana na qual os aspectos da cultura ainda se fazem presentes: a Língua Pomerana, o campesinato, as festividades tradicionais, a religião, entre outros. A docência neste contexto é permeada pelos saberes da cultura que são indissociáveis de sua práxis. Trabalhar com crianças que descendem de imigrantes, que convivem nestas comunidades, onde ainda é privilegiado o idioma de origem cultural, é algo desafiador. O agravamento dos obstáculos ocorre pelo fato de que se trata de promover o letramento na Língua Pomerana, um idioma que tem sido drasticamente silenciado. Some-se a tais dificuldades as vivências durante a pandemia da Covid-19. Nesta pesquisa é relatada a experiência de uma professora, ligada à cultura pomerana, que atua junto a crianças que falam o idioma pomerano nos seus espaços informais locais: em casa com a família, na comunidade onde residem, na igreja que frequentam e também na escola. O objetivo foi analisar as práticas de letramento utilizadas por uma professora pomerana, que atuou durante o isolamento social, no ano de 2020 em uma turma de 3º ano e que, em 2021, lecionou para a mesma turma no 4º ano do Ensino Fundamental, em uma escola localizada na zona rural de Canguçu (RS). Os dados mostram as estratégias implantadas pela professora para enfrentar os desafios do ensino remoto, expondo as diferentes experiências e as fragilidades emocionais que os envolvidos demonstraram na sequência dos estudos, momentos nos quais as aulas presenciais foram canceladas. A metodologia da pesquisa foi de natureza qualitativa, sendo desenvolvida por meio de entrevistas semiestruturadas, tendo sido analisados documentos tais como fotografias, vídeos, planejamentos enviados à pesquisadora. O processo de organização das categorias de análise foi realizado por meio da Análise Textual Discursiva - ATD, com base em Moraes (2023). Dos impactos trazidos pelo ensino remoto, ficaram evidenciadas fragilidades de diferentes tipos, dentre as quais destacam-se: os transtornos de cunho emocional, gerando depressão e síndrome do pânico em parte das crianças; o acirramento das questões de desigualdade social, principalmente no que concerne ao acesso às Tecnologias Digitais (TD); a sobrecarga de trabalho para a professora, que não sabia utilizar as ferramentas digitais para se adequar pedagogicamente; as dificuldades das famílias no auxílio às crianças para a realização das tarefas, dentre outros obstáculos ao melhor aprendizado. A professora pomerana se utilizou de elementos próprios da cultura pomerana nas suas práticas, ainda que estivesse diante dos obstáculos ocasionados pelo ensino remoto. Embora, devido às limitações da pesquisa, as conclusões não possam ser generalizadas, o presente trabalho pretendeu contribuir para o avanço dos estudos na temática das práticas de ensino para crianças que vivem em comunidades pomeranas.