Dissertação - Daniel Nascimento Nunes

Insatisfações de três docentes pandêmicos de Educação Física em meio à obrigatoriedade da implementação do Referencial Curricular Gaúcho

Autor: Daniel Nascimento Nunes (Currículo Lattes)

Resumo

Esta dissertação está situada temporalmente num cenário pandêmico, experienciado entre 2020 e 2022, quando concomitantemente as escolas públicas e privadas de ensino básico brasileiras deram início à implementação de um documento normativo, denominado Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que tem por objetivo a padronização do ensino de norte a sul. Nesse sentido, o estado do Rio Grande do Sul, com a intenção de regionalizar tal normativa, colocou em prática o Referencial Curricular Gaúcho (RCG). Esta pesquisa foi desenvolvida a partir desse cenário que gerou grandes insatisfações na comunidade escolar, e teve por objetivo diagnosticar os efeitos produzidos a partir das práticas de governo (Michel Foucault) ativadas, através de percepções de três docentes pandêmicos de Educação Física frente a obrigatoriedade da implementação do RCG. Tais docentes compartilham o mesmo território geográfico e existencial, porém, nem todos(as) fazem parte das mesmas instituições escolares. A cartografia foi assumida como inspiração para a produção de dados, o que possibilitou o arranjo de diferentes ferramentas instrumentais para o desenvolvimento da pesquisa em torno de pistas como: a coabitação de territórios existenciais, a validação do problema e das escolhas procedimentais e a construção de um plano comum. Foram eleitas as Nuvens de Palavras, do Mentimeter®, e Rodas de Conversas como recursos procedimentais para tal produção frente ao tempo pandêmico. Como resultado do diagnóstico, a partir da percepção dos(as) participantes da pesquisa, identificou-se, através de um primeiro agrupamento, um conjunto de insatisfações: imposição curricular, sofrimento tecnológico, falta de materiais, educação engessada, educação mercadológica, pedagogia irreal, professor limitado, professores tarefeiros, educação sem reflexão, entre outros. Num segundo agrupamento, operado a partir de uma recomposição temática, foram diagnosticadas insatisfações acerca da obrigatoriedade da implementação do RCG e o adoecimento potencializado por ela, como centrais para a operação analítica. Foi possível diagnosticar que a obrigatoriedade da implementação do RCG promove condições ao Estado de operar sobre a comunidade escolar e a sociedade como um todo, a partir do que se torna conveniente ao modo de Governo. Suas ações, como a implementação obrigatória do RCG, geraram impactos que, somados à pandemia, causaram inúmeras insatisfações. Ao obrigar o retorno de todos(as) às salas de aula em um momento considerado inoportuno, o Estado operou a bio(necro)política (Silvio Gallo), pois ainda que nenhum Governo tenha a intenção de matar seus docentes, o que se pode constatar foi que os(as) docentes pandêmicos(as) também adoeceram. Nesse sentido, o Estado, ao agir sobre a comunidade escolar a partir de um documento normativo, gerou frustração, desmotivação, responsabilidades redobradas e trabalho e exigência excessiva. Com isso, os(as) docentes destacaram descontentamento, estresse, sofrimento, submissão, aborrecimento, entristecimento, desmotivação, entre outros. Sendo assim, da forma como os dados foram produzidos, é plausível suspeitar que as insatisfações diagnosticadas não se limitam exclusivamente a esse grupo de docentes ou à Educação Física, mas também afetam uma grande quantidade de docentes de diferentes componentes curriculares.

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