Trabalho docente e política curricular : a construção da política de centralização curricular em Rio Grande
Autor: Josiane Freitas David (Currículo Lattes)
Resumo
Esta investigação tem como objetivo analisar os impactos do Documento Orientador Curricular do Território Rio-Grandino no trabalho docente de professoras que atuam nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental em escolas do município do Rio Grande/RS. A pesquisa busca compreender o processo de atuação da Base Nacional Curricular Comum e a construção do Referencial Curricular local por ela demandada, a partir da visão de três professoras dos anos iniciais do Ensino Fundamental, da referida cidade. O estudo problematiza como a política curricular chega até as professoras e de que forma incide no trabalho docente. Interessa compreender como as professoras relacionam-se com tal política e de que forma lhe dão sentidos e significados. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, que tem como técnica de produção de dados entrevistas semiestruturadas com docentes e professor que atuou na equipe pedagógica da Secretaria de Município da Educação, a qual encaminhou a construção do Referencial Curricular local. Para o trabalho analítico, dialoga-se com os estudos sobre currículo de Lopes e Macedo (2011), que afirmam que as políticas curriculares enfatizam um único caráter do currículo, qual seja, o prescritivo. Dialogam também com a abordagem teórico metodológica do Ciclo de Políticas de Ball e Bowe (1992), que, através dos contextos de influência, da produção de texto e da prática, procuram compreender de maneira crítica os percursos e processos, os diferentes atores e as relações de poder estabelecidas, desde a proposição de uma política pública, até sua recontextualização no contexto da ação. Neste sentido, a produção de dados indicou que o documento foi elaborado de maneira açodada, objetivando atender os prazos estipulados nas resoluções, o que assinala o caráter impositivo e prescritivo da política curricular. Além disso, o relato das professoras revelou que a atuação do documento curricular local compreendeu um processo de intensificação e de autointensificação do trabalho docente, sendo possível observar um discurso que disputa a identidade do professor e busca definir uma série de características que podem influenciar, alterar, reconfigurar e controlar o trabalho desses profissionais.