A dança e o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) : práticas, praticantes, sentidos e significados em um assentamento no Rio Grande do Sul
Autor: Daiana Viacelli Fernandes (Currículo Lattes)
Resumo
Esta pesquisa, a qual faz parte da Linha Educação, Culturas, Identidades e Diferenças do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande (PPGEDU/FURG), pretende verificar como a Dança - aqui abordada como elemento da cultura corporal numa dimensão constituinte da produção cultural humana - manifesta-se em um assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) localizado na região sul do Rio Grande do Sul. Especificamente, o estudo objetivou: traçar o perfil dos praticantes; descrever os espaços e os tempos em que a Dança se faz presente, bem como as características das práticas dançantes; e compreender os sentidos e significados produzidos pelas pessoas assentadas ao dançarem. Para tanto, parto inicialmente do relato de uma trajetória pessoal e profissional que me colocou diante desses dois temas e suas articulações. O MST, como movimento social, vem sendo visto como um movimento socioterritorial que luta pela conquista da terra, pela Reforma Agrária por mudanças na agricultura brasileira, por direito a crédito, escola, saúde e moradia e atualmente está organizado em 24 estados nas cinco regiões do país, beneficiando cerca de 450 mil famílias. No assentamento onde a pesquisa tomou parte, procurou-se verificar as diversas identidades observadas e como o entrecruzamento das trajetórias singulares de vários sujeitos, todos constituídos historicamente pela rede de relações em que se encontram envolvidos, desembocam em uma identidade coletiva e comunitária tendo a Dança como um agente catalisador. As decisões metodológicas são de cunho qualitativo em que a participação-observante e a entrevista semiestruturada foram elencadas como ferramentas para a produção dos dados, os quais passaram por um processo de análise temática reflexiva (ATR). A participação-observante ocorreu entre os meses de julho e dezembro de 2022, em 07 (sete) visitas ao assentamento totalizando 12 (doze) dias de campo. Já as entrevistas ocorreram em janeiro de 2023, contando com 07 (sete) entrevistados (as) moradores (as) do assentamento, sendo 4 (quatro) do sexo feminino e 3 (três) do sexo masculino, entre as idades de 10 a 72 anos, que foram escolhidos (as) através dos critérios de participação nos eventos dançantes e representação etária no assentamento. Verificou-se que a Dança é efetivamente movida pela cultura local e tem forte presença nos momentos de lazer e comemorações, apresentando sentidos e significados comuns que abrangem a comunidade pesquisada. Isso inclui percepções da Dança como motivadora de confraternização, integração, relaxamento, atividade física e terapia, sendo praticada em um ambiente comunitário característico da organização do próprio assentamento. Os tempos e espaços em que a se pratica a Dança estão à disposição de um público diverso, de múltiplas faixas etárias, que abrange todos as pessoas das famílias, seja em momentos que ela aparece de maneira mais sistematizada, como nas aulas e eventos onde a mesma acontece de forma organizada ou mesmo improvisada.